Luiz Gonzaga Binato de AlmeidaArquiteto e produtor cultural
Dia 12 passado, no Theatro Treze de Maio, com plateia lotada, compareci ao lançamento do documentário com o título acima. Não me admira a qualidade do trabalho, por se tratar de obra dirigida por Marcos Borba, tarimbado profissional, batalhador na área desde a adolescência. Há muito acompanho seu trabalho na TV OVO, instituição que registra e divulga boa parte da memória, do patrimônio e da cultura local. No referido lançamento, a entidade comemorou 26 anos de idealismo e inclusão social.
Com adequada linguagem visual e verbal, sutis e explícitas metáforas, funcional trilha sonora, claros relatos e um roteiro de mestre, o contundente curta-metragem atinge em cheio o público.
Nos breves 18 minutos, entre outros fatos, o espectador fica ciente da peste bubônica que, em julho de 1912, surpreendeu Santa Maria. Quem convive com Romeu Beltrão e outros pesquisadores sobre a cidade, sabe dessa epidemia, iniciada na Padaria Aliança, na esquina sudoeste da Rio Branco com Silva Jardim, cujo prédio foi logo mandado incendiar pelas autoridades.
São conhecidos os nomes das vítimas, dos médicos que as trataram, sabe-se do esvaziamento das atividades urbanas, do êxodo dos habitantes, do trauma nas famílias e mais um pouco. (Mais dados há na crônica do citado autor, publicada em A Razão de 31 de março de 1950, reproduzida no livro “Santa Maria: o passado pitoresco, em prosa fluída”, UFSM, 2018).
Isso é sabido, mas os velhos recortes do noticiário sobre a bubônica no Diário do Interior, entremeados no filme com manchetes da atual pandemia, e a amiga Lourdes Bicca, a narrar as várias mortes na família, tornam palpáveis os fatos. Passado e presente se fundem.
Cenas impressionam, como as do cemitério, com frias lápides, datadas em 2021. Os que visitam seus mortos sentem apenas o gelo da pedra, ou lhes perpassa o calor da consciência dos descasos atribuídos a autoridades responsáveis pela vida dos brasileiros? A morte, banalizada, é mero número em desumana estatística.
Eficaz, o lúcido depoimento da agente de saúde Maria Claudete Ribeiro, a delatar estragos da pandemia e o agravamento da visível tragédia social e econômica, sobretudo na periferia da cidade. Tais situações, Monalisa Dias de Siqueira ratifica.Mesmo com recursos poéticos, sensíveis, próprios da arte, o documentário salienta: passam gerações, mas permanecem os Tempos de Peste.
Leia o texto de Atílio Alencar